BRICS: Retórica Democrática e Desafios da Realidade

 



BRICS: Retórica Democrática e Desafios da Realidade

    A 11ª edição do Fórum Parlamentar do BRICS, encerrada nesta quinta-feira (5), evidenciou uma forte ênfase na defesa e no avanço da democracia, bem como no aprofundamento da cooperação interparlamentar entre os membros do bloco e países convidados. As declarações de representantes do Brasil, África do Sul, Índia, Cuba, Nigéria, Belarus e Irã, sob o tema "Por uma cooperação interparlamentar do BRICS mais forte e duradoura", delineiam uma aspiração por um sistema internacional mais justo, multipolar e centrado nas pessoas. Contudo, é crucial analisar as nuances e possíveis contradições entre o discurso proferido e as realidades políticas de alguns dos países envolvidos.

    O presidente do Senado brasileiro, Davi Alcolumbre, sublinhou a importância do fórum como um "momento histórico" para estreitar laços e reforçar a vocação dos parlamentos para a cooperação mútua, indo além dos meros fluxos comerciais. Sua defesa da revisão e atualização da estrutura do Fórum Parlamentar do BRICS, visando maior coesão, eficiência e acesso público aos documentos, é um passo fundamental para a legitimidade e transparência da iniciativa.

    A pauta de debates, abrangendo inteligência artificial, mudanças climáticas, saúde, desenvolvimento econômico e protagonismo feminino, demonstra uma preocupação com temas globais e contemporâneos. A menção à necessidade de participação ativa de jovens, mulheres e parcelas menos privilegiadas na democracia, como destacado pelo presidente da Câmara Baixa da Índia, Om Birla, ressoa com as demandas por uma democracia mais inclusiva e representativa.

    No entanto, a retórica da defesa da democracia e da não interferência em assuntos internos de Estados soberanos, conforme defendido por Serguei Rachkov de Belarus, e o compromisso com a democratização das relações internacionais, reiterado por Ana Maria Machado de Cuba, levantam questionamentos importantes. Ambos os países, assim como o Irã, têm históricos complexos em relação às práticas democráticas e aos direitos humanos, o que pode soar dissonante com as declarações de fortalecimento da democracia em nível global.

    A cooperação interparlamentar é, sem dúvida, uma ferramenta valiosa para o intercâmbio de melhores práticas legislativas e para o diálogo construtivo. A perspectiva da Nigéria, expressa por Julius Ihonvbere, sobre a proteção das democracias e Constituições e a necessidade de fortalecer as instituições democráticas, é vital para o progresso interno dos países e para a estabilidade regional. A participação feminina nos parlamentos também foi um ponto crucial, alinhado com as agendas de equidade de gênero e representatividade.

    Ainda que a "cooperação internacional entre os parlamentos não seja uma escolha, mas sim uma necessidade crítica por paz, segurança e bem-estar comum", como afirmou Ahmad Naderi do Irã, a efetividade dessa cooperação dependerá da coerência entre o discurso e a prática. Para que o BRICS se torne um bloco verdadeiramente "impactante, justo e centrado nas pessoas", como almejado, é imperativo que os compromissos com a democracia e os direitos humanos sejam observados de forma consistente por todos os seus membros.

    O 11º Fórum Parlamentar do BRICS, portanto, representa um palco para a articulação de aspirações e a identificação de desafios. A sua capacidade de transformar a retórica em ação concreta e de conciliar as diversas realidades políticas de seus participantes será o verdadeiro termômetro de seu sucesso e de sua relevância no cenário global.


    Você acredita que a diversidade de regimes políticos entre os membros do BRICS é um obstáculo ou uma oportunidade para o fortalecimento da democracia no cenário global?

Com informações da Agência Senado

Santiago Siqueira

Graduação em Geografia Licenciatura Plena pela Universidade Estadual de Anápolis (atual UEG) (1998), Especialização em Metodologia do Ensino Superior - UEG (2001), Mestrado em Geografia - UFSC (2012) e Doutorado em Geografia - UFSC (2018). Atualmente é professor na Rede Municipal de Ensino de Florianópolis, atuando nos anos finais do Ensino Fundamental como professor de Geografia. Possui interesse nos seguintes temas: Geografia Escolar; A cidade no contexto do Ensino Fundamental e currículo de Geografia.

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