O Erro de Lula: Transformar Trabalhadores em Classe Média?


Classe média: um sonho ou um equívoco?

O presidente Lula costuma dizer que tem um sonho: “que o Brasil possa se transformar num país de classe média, onde todos possam viver bem.” A frase, dita com boa intenção, expressa um desejo compreensível de melhora nas condições de vida da população — mas também carrega uma série de contradições que merecem reflexão.

Segundo o IBGE, a chamada classe média brasileira é definida com base na renda domiciliar per capita, variando conforme as metodologias e faixas de análise. Em geral, são consideradas de classe média as famílias que vivem com uma renda mensal entre 1,5 e 5 salários mínimos por pessoa. No entanto, essa é uma leitura puramente econômica, que desconsidera os aspectos socioculturais e simbólicos que envolvem o conceito de classe.

É aqui que começa minha divergência.

Classe média, no Brasil, não é apenas um patamar de poder de compra. Não é apenas comprar carro financiado, viajar nas férias, ter plano de saúde e pagar uma escola particular. Ser classe média envolve um modo de pensar, de ver o mundo — e, principalmente, de se posicionar socialmente. É um estado de espírito que, muitas vezes, carrega preconceito de classe, desejo de distinção e a necessidade de se sentir superior ao trabalhador pobre que, teoricamente, deixou para trás.

É a classe média que sonha com o condomínio fechado com elevador de serviço, com o quartinho da empregada, com o motorista, o jardineiro, a babá. São esses desejos que mantêm, em parte, a lógica da desigualdade: a ideia de que alguém precisa servir para que outros possam se sentir “realizados”.

Lula talvez não tenha errado ao melhorar a renda dos mais pobres. O que talvez tenha sido um equívoco dele foi chamar isso de ascensão à classe média. Porque ao fazer isso, acabou reforçando um ideal de pertencimento a um grupo que, historicamente, defende os interesses da elite, mesmo sem fazer parte dela.

A classe média brasileira, em muitos momentos da história, não se aliou aos trabalhadores, mas sim às camadas dominantes. Foi essa classe que se indignou com a presença de pobres nos aeroportos, que zombou dos nordestinos que passaram a comprar carro, que rejeitou as cotas nas universidades públicas. É essa classe que reproduz o discurso da elite econômica, mesmo sendo explorada por ela.

Por isso, não podemos sonhar com um Brasil "de classe média". Nosso sonho deve ser outro: um Brasil justo, igualitário, onde o trabalho seja valorizado, onde não haja quem sirva e quem seja servido, mas sim um povo que vive com dignidade — sem precisar se moldar ao ideal de consumo excludente da classe dominante.


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Santiago Siqueira

Graduação em Geografia Licenciatura Plena pela Universidade Estadual de Anápolis (atual UEG) (1998), Especialização em Metodologia do Ensino Superior - UEG (2001), Mestrado em Geografia - UFSC (2012) e Doutorado em Geografia - UFSC (2018). Atualmente é professor na Rede Municipal de Ensino de Florianópolis, atuando nos anos finais do Ensino Fundamental como professor de Geografia. Possui interesse nos seguintes temas: Geografia Escolar; A cidade no contexto do Ensino Fundamental e currículo de Geografia.

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